Sobre la revista

A Revista Textos e Debates aceita trabalhos acadêmicos, em fluxo contínuo, de pesquisas inéditas e originais, não divulgadas em outras revistas científicas ou livros e relacionadas às Ciências Humanas, em especial, nas áreas: Antropologia, Ciência Política, História, Relações Internacionais e Sociologia.

A proposta da revista é colaborar na divulgação científica para a inovação teórica, metodológica e/ou empírica destas áreas. São aceitos Artigos, Comunicações e Resenhas nos idiomas: português, espanhol e inglês. Os trabalhos devem ser enviados em sua forma final, apresentando consistência teórica, coerência quanto às fundamentações e alguma originalidade. 

A Revista Textos e Debates está indexada em diversas bases acadêmicas como Google Acadêmico, Portal de Periódicos da CAPES , Latindex etc. 

Número actual

Vol. 30 Núm. 02 (2024): Jul - Dez 2024: Revista Textos e Debates
Joseca Yanomami, Untitled, 2011

Apresentação do dossiê "Entre o Estado e a Sociedade Civil- participação, negociação e reivindicação no Brasil contemporâneo".

Imagem: Joseca Yanomami, Untitled, 2011

No Brasil, as últimas duas décadas foram marcadas por intensas transformações em torno da relação entre Estado e Sociedade Civil. As mudanças no perfil das elites políticas, a diversificação e a ressignificação das formas de participação, a emergência de movimentos sociais com agendas liberais e conservadoras, o debate público em torno da crise democrática brasileira e de suas instituições, tudo isso desenhou um cenário de grande complexidade. Soma-se a isso o impacto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) sobre as diversas formas de ação política bem como as mobilizações que reivindicam direitos e reparação de danos causados pela crise climática, pela pandemia de Covid-19 e pelo aumento das desigualdades sociais resultantes das políticas de austeridade fiscal.  Esses processos não apenas reconfiguraram a interação entre Estado e Sociedade Civil, mas também impulsionaram novas agendas de pesquisa

O resultado foi um conjunto de “viradas” que envolvem desde a construção e incorporação de novos aportes teórico-metodológicos até a emergência de novos objetos de pesquisa. Podemos destacar, no plano teórico, conceitos como “repertório de interação”, “desdemocratização” e “contramovimentos sociais”. Juntas, essas noções buscam dar conta dessas novas dinâmicas na relação entre o Estado e a Sociedade Civil que emergiram nos últimos vinte anos. A primeira evidencia, para além do conflito e da representação política, as múltiplas formas de articulação entre Estado e Sociedade. A segunda, ao evidenciar processos de reversão democrática, desafia o teleologismo das teorias que, a partir dos anos 1990, advogaram o progresso irrevogável da democracia, sobretudo ao atrelá-la à expansão do mercado global. A última chama a atenção para a necessidade de abordar relacionalmente os movimentos sociais. Assim, ao mesmo tempo em que ele põe em foco as disputas entre movimentos sociais concorrentes, também nos desperta para a necessidade de estudar os movimentos conservadores e/ou liberais, segmentos até pouco tempo negligenciados pelos pesquisadores dessa área.

Em termos metodológicos, a comunidade acadêmica interessada no tema da participação e do conflito político precisou elaborar um conjunto de estratégias de pesquisas capazes de analisar grupos e organizações à direita, como também criar formas de objetivar a relação entre as dinâmicas online e offline da ação política. No plano da empiria, outros objetos de pesquisa vieram à tona nesse cenário. Para além das organizações da sociedade civil emergentes na redemocratização dos anos 1980, novos atores entraram em cena: coletivos autonomistas, grupos de renovação política, ativistas digitais e institucionais, movimentos conservadores, associações religiosas, dentre outros.

Tendo em vista contribuir para a compreensão desse cenário, o dossiê reúne pesquisas que analisam processos que interligam o Estado e a Sociedade Civil, considerando suas especificidades e interdependências no contexto contemporâneo. Os artigos que compõem este número abordam quatro fenômenos caros a esta agenda de pesquisa: a relação entre participação social e o Estado, o ativismo institucional, os diferentes constrangimentos do Estado à participação nos últimos anos e as dinâmicas entre partidos políticos e mídias sociais.

Os três primeiros trabalhos mostram como federações, conselhos e reuniões multilaterais se configuram em arenas onde os movimentos sociais buscam influenciar a formulação de políticas públicas e as concepções políticas que as estruturam.

Em Sindicalismo da Agricultura Familiar e Estado: a atuação da Fetraf-Sul frente aos governos liderados pelo PT (2003-2016), Mateus Lazzaretti,  a partir de entrevistas semi-estruturadas com ex-dirigentes da Fetraf-Sul, analisa três importantes formas de interação entre o Estado e a Sociedade Civil: a participação, a negociação e a mediação de políticas públicas.

Já Mayara Mélo e Valdênio Freitas abordam essa relação a partir dos conselhos de políticas públicas. Em Conselhos de alimentação escolar: uma revisão da literatura, os autores examinam o tema a partir de uma síntese dos estudos brasileiros sobre os CAEs. Assim, fornecem um inventário dos obstáculos, das táticas de ação e dos papeis assumidos por esses conselhos na atuação junto ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O trabalho aponta, sobretudo, a importância dos CAEs na implementação e controle social dessa relevante política pública.

Como os discursos do G20 convocam a sociedade civil para a participação? Esta é a questão central no terceiro artigo. Em Desenvolvimento, contestação e participação social na presidência brasileira do G20: uma introdução, Raquel Conceição Santos e Isabel Rocha de Siqueira investigam como os conceitos e modelos de “desenvolvimento”, “contestação” e “participação” são mobilizados na Cúpula dos Povos e no “G20 Social”. O artigo traz ideias instigantes para se pensar a participação social em uma perspectiva transnacional.

Saindo da esfera dos movimentos sociais, o texto seguinte reflete sobre o ativismo institucional a partir do caso do judiciário brasileiro. Em Ativismo judicial e a luta contra a corrupção no Brasil, Fernanda Rios Petrarca analisa o fenômeno do ativismo institucional a partir da análise dos condicionantes sócio-histórico de emergência do ativismo judicial. A autora evidencia as estratégias de ação dos agentes jurídicos cujo objetivo é, a partir do Estado, impactar as políticas de combate à corrupção no Brasil. Para tanto, ela destaca dois fatores que, combinados, foram fundamentais para a consolidação do ativismo judicial: a expansão institucional do Judiciário no pós redemocratização e a fragmentação política que marca o Estado brasileiro.

Os últimos anos foram marcados por um conjunto de experiências de “desdemocratização”. Diversos estudos têm mostrado como o Estado brasileiro, especialmente nos dois governos anteriores, atuaram no sentido de constranger, desmobilizar ou desmontar mecanismos de participação e controle social consolidados durante a redemocratização. Os dois artigos a seguir interpelam faces do bloqueio à participação no Brasil contemporâneo.

Em A extinção da SECADI como política de desterritorialização de povos indígenas pelo Estado brasileiro (2016-2022), Josué Felipe Maia examina as políticas que ameaçam os territórios indígenas. Para isso, analisa o processo de extinção da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) durante os governos de Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022).

O artigo de Andrey Augusto Ribeiro se situa em uma agenda de pesquisa que se desenvolveu no Brasil recentemente. Seu foco é a repressão, criminalização ou policiamentos dos movimentos sociais e suas ações, especialmente aquelas de caráter mais disruptivo. Lei Antiterrorismo: ameaça constante aos movimentos sociais no Brasil nos apresenta os conflitos em torno da lei antiterrorismo, cujo arcabouço jurídico foi estabelecido em 2016. Assim, a partir de uma pesquisa documental, o texto se dedica à análise dos condicionantes sociopolíticos que não apenas colocaram a lei antiterrorismo no debate público brasileiro, como também possibilitaram que ela tomasse a forma de projetos de lei.

Encerra o dossiê o artigo  Plataformização, partidos políticos e usos das mídias digitais, de Wilson Oliveira e Bárbara Vitória Oliveira Castro. O trabalho reflete sobre os impactos das mídias sociais na organização e funcionamento dos partidos políticos. Com base na análise das dinâmicas partidárias nas eleições de 2022 em Sergipe, os autores destacam os usos das mídias em torno da construção de candidaturas e lideranças através de redes sociais como o Instagram, o Twitter e o Facebook.

Eis, em largas pinceladas, o dossiê Entre o Estado e a Sociedade Civil: participação, negociação e reivindicação no Brasil contemporâneo. Nossa modesta apresentação, todavia, não traz senão uma “pitada” das pesquisas aqui reunidas. Convidamos, agora, leitoras e leitores a participar desse instigante e necessário debate. Antes, cumpre agradecer. Afinal, o trabalho de organizar um dossiê é necessariamente um esforço coletivo. Gostaríamos de agradecer a disponibilidade e generosidade das e dos pareceristas, autoras, autores, editora e assistentes editoriais que dedicaram seu tempo e trabalho a este dossiê. Às leitoras e leitores, além de uma boa leitura, desejámos que os trabalhos aqui reunidos lhes sejam úteis e inspiradores!

 

Organizadores: Saulo Vinícius Souza Barbosa (PPGS/LEPP-UFS) e Jonatha Vasconcelos Santos (PPGS/LEPP-UFS e INCT-Participa)

Publicado: 14/12/2024

Artigos e Comunicações

  • Sindicalismo da Agricultura Familiar e Estado: a atuação da Fetraf-Sul frente aos governos liderados pelo PT (2003-2016)

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8254
    Mateus Lazzaretti, Everton Lazzaretti Picolotto
    e8254
  • Conselhos de alimentação escolar: uma revisão da literatura

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8256
    Mayara Mélo, Valdênio Freitas Meneses
  • Desenvolvimento, contestação e participação social na presidência brasileira do G20: uma introdução

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8258
    Raquel Santos, Isabel Rocha de Siqueira
    e8258
  • O Ativismo Judicial e a Luta Contra a Corrupção no Brasil

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8300
    Fernanda Petrarca
  • A extinção da SECADI como política de deseterritorialização de povos indígenas pelo Estado brasileiro (2016-2022)

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8245
    Josué Felipe Silva Maia
    e8245
  • Lei Antiterrorismo ameaça constante aos movimentos sociais no Brasil

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8197
    Andrey Ribeiro
    e8197
  • Plataformização, partidos políticos e usos das mídias digitais

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.8265
    Wilson José Ferreira de Oliveira, Bárbara Vitória Oliveira Castro
    e8265

Resenhas

  • Filosofia da Ciência de Terra & Terra: uma apresentação da ciência contemporânea

    DOI: https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v30i02.7839
    Luciano Marcos Curi, Ana Lúcia Araújo Borges
    e7839
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La revista Textos e Debates es un vehículo de publicación del Centro de Ciencias Humanas de la UFRR. Publicada desde 1995, tiene por objetivo colaborar con la difusión de trabajos originales en el área de Ciencias Humanas, en la forma de Artículos, Comunicaciones y Reseñas.

Con una periodicidad semestral, la revista constituye el más antiguo vehículo de publicación científica de la UFRR. Su carácter interdisciplinario permite un diálogo académico entre diferentes áreas e instituciones de pesquisa.

Recibimos textos en flujo continuo , enviados en cualquier momento, y preparamos para cada edición un dossier con temas y agendas específicas.


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ISSN on-line: 2317-1448
ISSN impressa: 1413-9987

 
PRÓXIMOS DOSSIES:

N. 32 – Educación y Transculturalidad (Inscripciones cerradas)
Coord.: Prof. Dr. Maxim Repeto (UFRR)

N. 33 – Migración, Fronteras y Derechos Humanos (inscripciones cerradas)
Coord.: Profa. Dra. Francilene dos Santos Rodrigues (UFRR)

N. 34 – Venezuela: passado, presente y futuro (abierto hasta octubre de 2019)
Coord.: Prof. Dr. Fábio Barbosa dos Santos (UNIFESP-Osasco) y Prof. Dr. Rodrigo Chagas (UFRR)

El objetivo del Dossiê "Venezuela: pasado, presente y futuro" es promover subsidios para una contextualización global de la actual crisis venezolana.
En este sentido, buscamos Artículos y Comunicaciones que aborden diferentes ángulos de la problemática venezolana, tales como: Petróleo y Proyecto Nacional; Militares y Política, Cobiza internacional; Crisis; Migración; Resistencia Social, entre otros.