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  • Jan - Jul 2025: Revista Textos e Debates
    Vol. 31 Núm. 01 (2025)

    Apresentação do dossiê “Entre luzes e sombras: ditaduras no Brasil contemporâneo e o ensino de História”.

    Imagem: Fantasmas da Esperança (2018) – Marcela Cantuária

    O século XX se configurou como uma época marcada pelo avanço da tecnologia, a inserção da sociedade na era da informação e numa fase permeada por transformações significativas no âmbito cultural. Ao mesmo tempo, assistiu-se, ao longo de todo esse período, a ascensão de regimes autoritários em diferentes partes do mundo, a exemplo dos fascismos italiano e alemão. No caso do Brasil, duas ditaduras marcaram a história do país no século XX, o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Estes dois governos impactaram a sociedade brasileira de maneiras distintas, dadas as suas especificidades, mas sem deixar de reverberar os efeitos desse momento nas gerações futuras.

    No que se refere ao Estado Novo, trata-se de um modelo de regime político marcadamente centralizador, autoritário e nacionalista, que foi instaurado pelo presidente Getúlio Dornelles Vargas em 10 de novembro de 1937. A criação de um Estado forte e “Novo” visava não somente romper com um passado considerado pelos ideólogos estadonovistas como atrasado, mas também promover as mudanças necessárias em todas as esferas da sociedade brasileira dentro de uma lógica voltada para a ordem e o progresso. A Constituição de 1937 deu respaldo legal à política repressiva e à censura promovidas pelo regime, consolidando um período de controle político e ideológico sobre a população.

    Exibindo também um perfil autoritário e coercitivo sobre a população, a Ditadura Civil-Militar, instaurada após o golpe de 31 de março de 1964, que depôs o presidente democraticamente eleito João Goulart, assumindo em seu lugar o militar de carreira, Humberto de Alencar Castelo Branco, provocou impactos profundos na sociedade brasileira. Esse regime foi apoiado por diversos setores civis, como empresários, parte da mídia, da Igreja e da classe média, além das próprias Forças Armadas. O pretexto utilizado para justificar a intervenção foi o combate ao comunismo e a necessidade de restaurar a ordem no país, implantando uma ditadura que durou 21 anos, encerrando-se em 1985, com o retorno de um presidente civil ao poder, José Sarney.

    Diante disso, a proposta deste dossiê é abordar temas relacionados ao Estado Novo e à Ditadura Civil-Militar, privilegiando aspectos diversos que permearam as duas ditaduras presentes no país durante o século XX. O intuito é aglutinar trabalhos que busquem compreender as características em torno de tais eventos, suas especificidades e potencialidades, focando, dentre outros elementos políticos e culturais encontrados em ambas as realidades, também em possibilidades de estudo relacionadas ao Ensino de História.

    Desta feita, o dossiê em questão reuniu pesquisas que analisam essa variedade temática em torno das referidas ditaduras, abordando aspectos como a relação entre Estado Novo e o universo cultural voltado para as canções e o cinema à época, perpassando pelo Ensino de História e suas viabilidades no contexto da Ditadura Civil-Militar, bem como no papel da Igreja durante essa fase, a respeito do surgimento do núcleo político ligado ao partido dos trabalhadores em Sergipe e no que concerne às questões em torno da Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos entre 1964-1985.

    Sendo assim, o texto de abertura do dossiê “Notas de um Regime: O Estado Novo entre Canções e Cinema”, buscou analisar o uso de filmes e canções como ferramentas de propaganda ideológica utilizadas durante o Estado Novo. As autoras Adriana Mendonça Cunha e Mônica Porto Apenburg Trindade, abordaram, em linhas gerais, como o governo Vargas lançou mão do cinema e das canções populares divulgadas amplamente através do rádio nessa fase, como meio de propagar os valores defendidos pelo regime, especialmente, devido ao alcance destas mídias tanto entre a população letrada quanto entre os analfabetos.

     

    Na sequência, o leitor terá a oportunidade de acessar um bloco de trabalhos voltados para a relação entre as décadas traumáticas do regime militar e o Ensino de História. Começamos pelo artigo “A música como ferramenta para o conhecimento histórico dos temas sensíveis: a ditadura militar brasileira e a presença de um trauma coletivo”, tendo como autor Pedro Carvalho Oliveira. O texto propõe discutir as possibilidades de uso da música como documento histórico em sala de aula, procurando trazer à tona temas sensíveis relacionados ao coletivo no contexto do regime militar com o presente vivido. Na mesma linha da música, enquanto objeto de reflexão de um contexto histórico utilizado em sala de aula, Luís Fellipe Fernandes Afonso, em “O BRock no ensino de História”, buscou refletir como o rock brasileiro feito na década de 1980, o BRock, pode ser usado para expandir nossas visões sobre o final da Ditadura Civil Militar no Brasil.

     

    Saindo da esfera musical, mas ainda no mesmo bloco Ditadura-Ensino de História, nos deparamos com o texto “O ensino de História e usos de fontes como recursos didáticos”, cujo autor Marcelo Góes Tavares propôs uma didática da História com abordagem sobre o Golpe de 1964, utilizando o documentário “O dia que durou 21 anos” como fonte e recurso audiovisual para um ensino com base em evidências e saberes da ciência histórica. Encerrando esse bloco, o artigo “Currículo em revista: prescrições educacionais para adolescentes durante a ditadura militar (Paraná 1973-1984)”, de Jorge Luiz Zaluski, buscou refletir sobre as expectativas construídas para os adolescentes durante a ditadura militar no estado paranaense, mediante parte das reverberações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O objetivo foi perceber os interesses educacionais, as disputas curriculares e as expectativas construídas em torno dos/as estudantes.

     

    Por fim, no último bloco de trabalhos que abordam o período da ditadura civil-militar, encontramos o artigo “Fundadores do PT Sergipano: origem, política de liderança, caminhos trilhados e desafios (1980-1982)”, de Ronaldo de Jesus Nunes, que analisou a gênese do primeiro núcleo do Partido dos Trabalhadores (PT) em Sergipe, tomando como base o discurso de Michel Pêcheux, realizado em 1990. Na sequência, o texto intitulado “Diante da Medusa: a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e a construção da vítima da Ditadura civil-militars”, discutiu o surgimento e a atuação da referida Comissão, criada no governo de Fernando Henrique Cardoso. Os autores Tasso Araújo Brito e Juliana Ferreira Campo Leite investigaram como essas iniciativas de reparação financeira e moral enfrentaram disputas ideológicas e memória seletiva à época. Em conclusão, o artigo “O problema do poder: política e fé em tempos de ditadura no Brasil (1968-1972)”, tendo como autor Adauto Guedes Neto, examinou o posicionamento e atuação de setores do catolicismo, críticos ao conservadorismo interno da igreja no período da ditadura militar brasileira, especialmente entre 1968 e 1972, a partir do que se convencionou denominar o documento Comblin.

     

    Acreditamos que refletir sobre o período ditatorial no Brasil se constitui como urgente e necessário diante dos desafios pelos quais a sociedade brasileira tem enfrentado em termos políticos e culturais nessas primeiras décadas do século XXI. É sempre bom lembrarmos que compreender o passado é entendermos também um pouco da nossa própria realidade, do nosso presente.

     

    Boa leitura!

    Organizadoras: Adriana Mendonça Cunha (Doutora em História pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) e do Grupo de Pesquisa Dimensões do Regime Vargas (UERJ/CNPq) e Mônica Porto Apenburg Trindade (Doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq) e do Laboratório de Pesquisa do Mundo Contemporâneo (Contemporaneus/UFRR/CNPq).

     

  • Joseca Yanomami, Untitled, 2011

    Jul - Dez 2024: Revista Textos e Debates
    Vol. 30 Núm. 02 (2024)

    Apresentação do dossiê "Entre o Estado e a Sociedade Civil- participação, negociação e reivindicação no Brasil contemporâneo".

    Imagem: Joseca Yanomami, Untitled, 2011

    No Brasil, as últimas duas décadas foram marcadas por intensas transformações em torno da relação entre Estado e Sociedade Civil. As mudanças no perfil das elites políticas, a diversificação e a ressignificação das formas de participação, a emergência de movimentos sociais com agendas liberais e conservadoras, o debate público em torno da crise democrática brasileira e de suas instituições, tudo isso desenhou um cenário de grande complexidade. Soma-se a isso o impacto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) sobre as diversas formas de ação política bem como as mobilizações que reivindicam direitos e reparação de danos causados pela crise climática, pela pandemia de Covid-19 e pelo aumento das desigualdades sociais resultantes das políticas de austeridade fiscal.  Esses processos não apenas reconfiguraram a interação entre Estado e Sociedade Civil, mas também impulsionaram novas agendas de pesquisa

    O resultado foi um conjunto de “viradas” que envolvem desde a construção e incorporação de novos aportes teórico-metodológicos até a emergência de novos objetos de pesquisa. Podemos destacar, no plano teórico, conceitos como “repertório de interação”, “desdemocratização” e “contramovimentos sociais”. Juntas, essas noções buscam dar conta dessas novas dinâmicas na relação entre o Estado e a Sociedade Civil que emergiram nos últimos vinte anos. A primeira evidencia, para além do conflito e da representação política, as múltiplas formas de articulação entre Estado e Sociedade. A segunda, ao evidenciar processos de reversão democrática, desafia o teleologismo das teorias que, a partir dos anos 1990, advogaram o progresso irrevogável da democracia, sobretudo ao atrelá-la à expansão do mercado global. A última chama a atenção para a necessidade de abordar relacionalmente os movimentos sociais. Assim, ao mesmo tempo em que ele põe em foco as disputas entre movimentos sociais concorrentes, também nos desperta para a necessidade de estudar os movimentos conservadores e/ou liberais, segmentos até pouco tempo negligenciados pelos pesquisadores dessa área.

    Em termos metodológicos, a comunidade acadêmica interessada no tema da participação e do conflito político precisou elaborar um conjunto de estratégias de pesquisas capazes de analisar grupos e organizações à direita, como também criar formas de objetivar a relação entre as dinâmicas online e offline da ação política. No plano da empiria, outros objetos de pesquisa vieram à tona nesse cenário. Para além das organizações da sociedade civil emergentes na redemocratização dos anos 1980, novos atores entraram em cena: coletivos autonomistas, grupos de renovação política, ativistas digitais e institucionais, movimentos conservadores, associações religiosas, dentre outros.

    Tendo em vista contribuir para a compreensão desse cenário, o dossiê reúne pesquisas que analisam processos que interligam o Estado e a Sociedade Civil, considerando suas especificidades e interdependências no contexto contemporâneo. Os artigos que compõem este número abordam quatro fenômenos caros a esta agenda de pesquisa: a relação entre participação social e o Estado, o ativismo institucional, os diferentes constrangimentos do Estado à participação nos últimos anos e as dinâmicas entre partidos políticos e mídias sociais.

    Os três primeiros trabalhos mostram como federações, conselhos e reuniões multilaterais se configuram em arenas onde os movimentos sociais buscam influenciar a formulação de políticas públicas e as concepções políticas que as estruturam.

    Em Sindicalismo da Agricultura Familiar e Estado: a atuação da Fetraf-Sul frente aos governos liderados pelo PT (2003-2016), Mateus Lazzaretti,  a partir de entrevistas semi-estruturadas com ex-dirigentes da Fetraf-Sul, analisa três importantes formas de interação entre o Estado e a Sociedade Civil: a participação, a negociação e a mediação de políticas públicas.

    Já Mayara Mélo e Valdênio Freitas abordam essa relação a partir dos conselhos de políticas públicas. Em Conselhos de alimentação escolar: uma revisão da literatura, os autores examinam o tema a partir de uma síntese dos estudos brasileiros sobre os CAEs. Assim, fornecem um inventário dos obstáculos, das táticas de ação e dos papeis assumidos por esses conselhos na atuação junto ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O trabalho aponta, sobretudo, a importância dos CAEs na implementação e controle social dessa relevante política pública.

    Como os discursos do G20 convocam a sociedade civil para a participação? Esta é a questão central no terceiro artigo. Em Desenvolvimento, contestação e participação social na presidência brasileira do G20: uma introdução, Raquel Conceição Santos e Isabel Rocha de Siqueira investigam como os conceitos e modelos de “desenvolvimento”, “contestação” e “participação” são mobilizados na Cúpula dos Povos e no “G20 Social”. O artigo traz ideias instigantes para se pensar a participação social em uma perspectiva transnacional.

    Saindo da esfera dos movimentos sociais, o texto seguinte reflete sobre o ativismo institucional a partir do caso do judiciário brasileiro. Em Ativismo judicial e a luta contra a corrupção no Brasil, Fernanda Rios Petrarca analisa o fenômeno do ativismo institucional a partir da análise dos condicionantes sócio-histórico de emergência do ativismo judicial. A autora evidencia as estratégias de ação dos agentes jurídicos cujo objetivo é, a partir do Estado, impactar as políticas de combate à corrupção no Brasil. Para tanto, ela destaca dois fatores que, combinados, foram fundamentais para a consolidação do ativismo judicial: a expansão institucional do Judiciário no pós redemocratização e a fragmentação política que marca o Estado brasileiro.

    Os últimos anos foram marcados por um conjunto de experiências de “desdemocratização”. Diversos estudos têm mostrado como o Estado brasileiro, especialmente nos dois governos anteriores, atuaram no sentido de constranger, desmobilizar ou desmontar mecanismos de participação e controle social consolidados durante a redemocratização. Os dois artigos a seguir interpelam faces do bloqueio à participação no Brasil contemporâneo.

    Em A extinção da SECADI como política de desterritorialização de povos indígenas pelo Estado brasileiro (2016-2022), Josué Felipe Maia examina as políticas que ameaçam os territórios indígenas. Para isso, analisa o processo de extinção da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) durante os governos de Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022).

    O artigo de Andrey Augusto Ribeiro se situa em uma agenda de pesquisa que se desenvolveu no Brasil recentemente. Seu foco é a repressão, criminalização ou policiamentos dos movimentos sociais e suas ações, especialmente aquelas de caráter mais disruptivo. Lei Antiterrorismo: ameaça constante aos movimentos sociais no Brasil nos apresenta os conflitos em torno da lei antiterrorismo, cujo arcabouço jurídico foi estabelecido em 2016. Assim, a partir de uma pesquisa documental, o texto se dedica à análise dos condicionantes sociopolíticos que não apenas colocaram a lei antiterrorismo no debate público brasileiro, como também possibilitaram que ela tomasse a forma de projetos de lei.

    Encerra o dossiê o artigo  Plataformização, partidos políticos e usos das mídias digitais, de Wilson Oliveira e Bárbara Vitória Oliveira Castro. O trabalho reflete sobre os impactos das mídias sociais na organização e funcionamento dos partidos políticos. Com base na análise das dinâmicas partidárias nas eleições de 2022 em Sergipe, os autores destacam os usos das mídias em torno da construção de candidaturas e lideranças através de redes sociais como o Instagram, o Twitter e o Facebook.

    Eis, em largas pinceladas, o dossiê Entre o Estado e a Sociedade Civil: participação, negociação e reivindicação no Brasil contemporâneo. Nossa modesta apresentação, todavia, não traz senão uma “pitada” das pesquisas aqui reunidas. Convidamos, agora, leitoras e leitores a participar desse instigante e necessário debate. Antes, cumpre agradecer. Afinal, o trabalho de organizar um dossiê é necessariamente um esforço coletivo. Gostaríamos de agradecer a disponibilidade e generosidade das e dos pareceristas, autoras, autores, editora e assistentes editoriais que dedicaram seu tempo e trabalho a este dossiê. Às leitoras e leitores, além de uma boa leitura, desejámos que os trabalhos aqui reunidos lhes sejam úteis e inspiradores!

     

    Organizadores: Saulo Vinícius Souza Barbosa (PPGS/LEPP-UFS) e Jonatha Vasconcelos Santos (PPGS/LEPP-UFS e INCT-Participa)

  • Jan - Jun 2024: Revista Textos e Debates
    Vol. 30 Núm. 01 (2024)

    Imagem: “A descida da pajé Jenipapo do reino das medicinas”, 2021, Acrílica e posca sobre tela, 111 x 160 cm ( Jaider Esbel).

    Apresentação Dossiê  Revista Textos e Debates: Amazônia(s) e Educação: 20 anos da Lei Federal 10.639/03 e 15 anos da Lei Federal 11.645/08

    No ano de 2023 comemoramos os 20 da promulgação da Lei Federal 10.639/2003, que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura da África e Afro-brasileira na Educação Básica, sobretudo nas disciplinas de História, Artes e Literatura. Em 2008, a lei foi modificada e incluiu-se a História e Cultura dos Povos Indígenas, que resultou na Lei Federal 11.645/2008, que completou 15 anos.

    Num momento em que celebramos avanços e a transposição de inúmeros obstáculos na implementação dessas leis, encontramos novas barreiras que visam inibir o desenvolvimento de debates acerca de uma sociedade diversa e plural. Nesse sentido, devemos reforçar a importância da efetiva implementação da legislação relativa às relações étnico-raciais, fruto de lutas dos movimentos sociais, e a necessidade de aprofundamento e espraiamento dos assuntos nelas contemplados em todos os níveis da Educação no Brasil.

    Sendo assim, o presente dossiê “Amazônia(s) e Educação: 20 anos da Lei Federal 10.639/03 e 15 anos da Lei Federal 11.645/08” reúne trabalhos de diferentes áreas do conhecimento que abordam a implementação da legislação, incorporando narrativas críticas   ao colonialismo e seus impactos na educação ainda nos dias atuais. Este dossiê tem o intuito de contribuir, por meio de debates recentes em torno de desafios do presente, com reflexões embasadas em dimensões éticas, estéticas e culturais de experiências da e na Amazônia brasileira.

    Ângela Maria Bastos de Albuquerque analisa os avanços e obstáculos na implementação da Lei Federal 10.639/2003 na Amazônia acreana. Assim, no artigo “Entraves e perspectivas na implementação da lei 10.639/2003 na Amazônia acreana após duas décadas de sua aprovação 2003 a 2023”, a autora apresenta a legislação que se produziu para assegurar a efetividade da implementação da lei, que trata da inclusão da História e Cultura africana e afro-brasileira no currículo da Educação Básica, desde as resoluções do Conselho Nacional de Educação, passando pelas legislações em âmbito estadual e municipal no Acre. Tal análise apresenta como cada passo conquistado na execução eficaz da referida lei, impõem-se obstáculos que intentam refrear sua concretização em diferentes níveis e instâncias.

    Ítalo Yves Cavalcante Silva e Jéssica de Almeida no artigo “Pesquisas sobre raça no campo educacional: um olhar para as questões étnico-raciais”, realizam um levantamento de dissertações e teses baseado no dossiê “Mapeamento de pesquisas e estudos com foco em Educação e Raça” (2021), elaborado por João Nganga, que reúne trabalhos acadêmicos de diferentes naturezas. Nesse sentido, os autores do texto partem de uma pesquisa de mestrado em curso, lançando luz sobre práticas docentes pertinentes às relações étnico-raciais, especificamente, com propostas antirracistas. Desse modo, os autores elencam as principais leis posteriores e relativas às Lei Federal 10.639/2003, para construir um desenho de como as práticas docentes se valem de tal legislação para nas suas discussões e elaboração de propostas.

    Leandro de Castro Tavares e Joana Bahia, em “Estudos e pesquisas sobre a cultura afro-brasileira a partir da Lei 10.639/2003 e 11.645/2008 na Escola Estadual de Ensino Médio São José em Óbidos/PA”, analisam a insuficiente a aplicação das leis federais 10.639/2003 e 11.645/2008 em uma região com forte presença de povos remanescentes de quilombos. Por outro lado, apresentam caminhos para empreender estudos que contemplem as leis a partir da história e vivências locais.

    No artigo “A possibilidade de outros saberes: o ensino de história indígena nas escolas públicas”, Maria Luiza Fernandes e André Augusto da Fonseca trazem um levantamento sobre a implementação da Lei Federal 11.645/2008 nos currículos da Educação Básica e Superior. Tal levantamento aponta para a urgente descolonização dos currículos ou, pelo menos, para uma mirada descolonizada sobre a questão indígena nas escolas e universidades. Os autores ao longo da pesquisa, que está andamento, vislumbram alguns pontos que obstaculizam a efetivação da implementação da lei. Em primeiro lugar, em diálogo com docentes da rede básica, constatou-se que o primeiro empecilho residiria na formação deficitária acerca do assunto e na baixa oferta de materiais didáticos. Além disso, os autores perceberam que a tais motivos somam-se a desimportância do tema nos currículos conferida pelos próprios professores, que permanecem pensando os conteúdos de modo hierarquizado e eurocêntrico. 

    Em “Museu Virtual na Amazônia: uma proposta de protagonismo das artistas indígenas em Roraima”, Cleane Nascimento, Ananda Machado e Paulo Sérgio Maroti vislumbram uma possibilidade de recurso didático a ser implementado na Educação Básica e Superior sobre Arte, História e Cultura dos povos indígenas. Percorrendo e iluminando diversas trajetórias indígenas e experiências museais virtuais, as autoras apresentam a proposta de construção de um museu virtual dedicado às trajetórias indígenas femininas, sobretudo artistas que se dedicam a uma multiplicidade de manifestações artísticas, da literatura às artes visuais. A proposta comporta para além da emergência de artistas indígenas, um cuidado com a acessibilidade da pessoa com deficiência, sobretudo deficiência visual e auditiva. Tal projeto tem como objetivo trazer à tona os mais diversos aspectos das culturas indígenas evidenciados pelas próprias mulheres indígenas, numa proposta de constituir-se como alternativa ou complemento ao material didático usualmente empregado, viabilizando novos contatos e experiências com as culturas indígenas por parte dos docentes e estudantes de diferentes níveis de escolarização.

    No artigo “Jogos indígenas e a lei 11.645/2008: possibilidades para um currículo intercultural”, as autoras Inayara Moraes da Silva, Jairzinho Rabelo e Juli Cristina Dorigon nos brindam com novas possibilidade de atendimento ao que preconiza a lei federal 11.645/2008 com relação à inserção da história e cultura dos povos indígenas no currículo, para além das disciplinas História, Artes e Literatura, mas na Educação Física. As autoras enfatizam como a ludicidade dos jogos indígenas podem contribuir para o desenvolvimento de crianças e adolescentes em idade escolar e, nomeadamente, o enfrentamento à intolerância e o conhecimento mais profundo de novas maneiras de enxergar o mundo.

    Eduardo Gomes da Silva Filho propõe uma ressignificação do Ensino de História, ensejada pela promulgação das leis federais 10.639/2003 e 11.645/2008. Assim, em “Reescrevendo a narrativa Histórica: a descolonização do ensino de História através das leis 10.639/03 e 11.645/08”, o autor apresenta como a perspectiva decolonial pode contribuir para uma nova concepção de ensino e aprendizagem. Pois, não basta apenas a inclusão de novos conteúdos ao currículo, faz-se necessário que tais conteúdos participem na transformação de paradigmas educacionais, rompendo com uma educação construída sobre base eurocêntrica e excludente, promovendo, portanto, um ambiente polifônico e de multiplicidade de saberes.

    Encerramos nosso dossiê com a entrevista concedida por Circe Bittencourt à Naiara Moreira da Silva, Sérgio Barbosa dos Santos e Marcella Albaine Farias da Costa. Em uma conversa profunda e amistosa, Circe Bittencourt compartilha com os entrevistadores e leitores sua larga experiência sobre o Ensino de História, sobretudo a educação escolar indígena em comunidades indígenas e a Lei Federal 11.645/2008, foco da entrevista. Bittencourt chama a atenção para que o ensino nas escolas indígenas seja fundado na experiência e história indígena, da História Antiga, àquelas que remetem à cosmovisão e mitos fundadores, percorrendo pelo período pré-colonial, passando pela conquista, até a contemporaneidade, sempre atentando para a historicidade e observando as rupturas e permanências. O ponto fulcral é que as comunidades privilegiem sua própria maneira ler o mundo com o auxílio dos mais antigos da comunidade, exercitando também a construção do conhecimento pela oralidade respeitando a ancestralidade, levando em consideração as diferentes conexões e jogos de escalas. Tais premissas contribuem para a concepção de um Ensino de História horizontal que envolva a pluralidade de histórias, perspectivas e sujeitos.

    Desejamos uma boa leitura!

    Organizadoras: Karla Leandro Rascke (PPGHIST e PROFHISTORIA – UNIFESSPA) e Monalisa Pavonne Oliveira (PPGE e PROFHISTORIA – UFRR).

  • Arissana Pataxó, Sem título, 2009.

    Jul - Dez 2023: Revista Textos e Debates
    Vol. 29 Núm. 02 (2023)

    Arissana Pataxó, Sem título, 2009.

    Disponível em: https://www.artequeacontece.com.br/artistas-que-sao-indigenas-para-ficar-de-olho/

  • Crédito da Capa: Mariana da Silva Oliveira.

    Jan - Jul 2023: Revista Textos e Debates
    Vol. 29 Núm. 01 (2023)

    Círculos de Mulheres na América Latina: Espiritualidade, Agência e Corporalidade

    Os Círculos de Mulheres contemporâneos são um fenômeno recente que integra demandas seculares, místicas e espirituais. Na última década proliferaram no Brasil grupos de mulheres que se relacionam com divindades femininas e constroem uma sacralidade alternativa aos modelos androcêntricos e institucionais. Ainda que atravessados por um hibridismo de práticas e referências religiosas, os Círculos de Mulheres possuem o objetivo comum de superar desigualdades de gênero a partir da noção de cura do feminino. 

    A revista Textos e Debates apresenta neste número reflexões sobre formas de ritualizar, viver a espiritualidade e construir conhecimento de grupos de mulheres com posições específicas nas estruturas de poder. O Dossiê é um compilado de seis artigos, um prólogo e uma nota de experiência que visa dar conta da atualidade temática e do potencial analítico dos Círculos de Mulheres, bem como manifestações associadas - sagrado feminino, espiritualidade feminina e nova era. A composição promove um interessante debate interdisciplinar e transnacional que recorta elementos de diferentes áreas do conhecimento: espiritualidade, religião, corpo, afeto, gênero e raça. Uma conversa entre vozes de pesquisadoras brasileiras, mexicanas, uma uruguaia e outra espanhola, além de uma participante de Círculos (quem conhece do tema logo reconhecerá sua importância por seu vínculo histórico e afetivo com Mirella Faur e a Teia de Thea).

    As organizadoras, pertencentes a programas de pós-graduação em Antropologia, Sociologia e Feminismo, entendem que a compilação contribui com a ciência no sentido de analisar fenômenos sociais atuais e complexos, que põem em jogo temas como corpo, espiritualidade, saúde, raça, violência e disputas por narrativas, sendo marcados por ambiguidades, além de estarem diretamente afetados pelas novas tecnologias. O Dossiê também se propõe a suprir uma lacuna de publicações sobre o tema, uma vez que no Brasil, os trabalhos envolvendo os Círculos de Mulheres são poucos e se encontram dispersos. Assim, o intuito é que a coletânea aqui apresentada possa contribuir com pesquisas futuras sobre o assunto e outras perspectivas analíticas.

    Como mencionam as autoras do prólogo, as temáticas circunscritas no Dossiê questionam antigas divisões que estruturam as ciências sociais, exigindo uma abordagem interdisciplinar. Política e espiritualidade, corpo, imanência, transformação social e reprodução de desigualdades são situados como parte de uma existência coletiva que exige formas alternativas de produzir conhecimento. 

    Além disso, há o interesse de aproximar o debate acadêmico dos espaços sociais de militância. Para isso, as organizadoras esperam que  o Dossiê também colabore com a  formação de opinião pública respondendo de forma responsável aos questionamentos suscitados em redes sociais sobre o lugar dos Círculos de Mulheres na transformação social e inspire as participantes de Círculos a se perceberem nesse espaço de diálogo e troca.

    O compilado é aberto pelo prólogo de estudiosas de longa data das espiritualidades contemporâneas, que compartilham um interessante olhar sobre os Círculos na América Latina. Na sequência um conjunto de seis artigos apresentam uma imagem e percepções sobre o que são Círculos de Mulheres, como estes são atravessados por dinâmicas raciais e de aprofundamento de desigualdades ao passo que constituem modos alternativos de vivenciar a relação com o corpo e a espiritualidade entre mulheres. Um dos artigos é assinado por Fátima Tavares, uma conhecida estudiosa de nova era no Brasil, a quem  se agradece o interesse em colaborar com o debate. O texto final do Dossiê é de autoria de uma participante, o que demonstra o tipo de engajamento que as organizadoras desejam ter com a produção de conhecimento, atento à parcialidade do conhecimento e de valorização dos saberes outrora definidos como nativos. Antes de dar a palavra final, Virginia Sampaio apresenta o caráter vital de sua trajetória em Círculos, registra sua história e seus entrelaçamentos com o movimento de constituição de um sagrado feminino.

    Mulheres, Deusas, Sangue, Desigualdades e Transformação Social. Que este Dossiê fortaleça um campo de estudos interdisciplinar, horizontal e comprometido com as múltiplas formas de existência.

    As organizadoras

    Tchella Fernandes Maso, Raquel Guimarães Mesquita e Thainá Soares Ribeiro.

    Lua Crescente, Junho de 2023.

     

    Crédito da Capa: Mariana da Silva Oliveira.

  • "Operários" (1933), Tarsila do Amaral (1886 - 1973)

    Jul - Dez 2022: Revista Textos e Debates
    Vol. 28 Núm. 02 (2022)

    "Operários" (1933), Tarsila do Amaral (1886 - 1973)

  • Jan - Jun 2022: Revista Textos e Debates
    Vol. 28 Núm. 01 (2022)

    Metropolis (1917),  - George Grosz (1893 - 1959)

  • Angelus Novus (1920) - óleo sobre tela de Paul Klee (1897-1982)

    Jul - Dez 2021: Revista Textos e Debates
    Vol. 27 Núm. 02 (2021)

    Imagem: Angelus Novus (1920) - óleo sobre tela de Paul Klee (1897-1982). 

  • Lídia Matos, abrigo Pricumã

    Jan - Jun 2021: Revista Textos e Debates
    Vol. 27 Núm. 01 (2021)

    Apresentação do Dossiê: Migrações Venezuelanas, abordagens plurais 

    A mobilidade de pessoas venezuelanas ao redor do mundo, especialmente na América do Sul, tem sido um dos temas mais estudados e refletidos ao longo da última década. A Academia tem um interesse especial nessa temática, pois a migração e a mobilidade são consideradas "fatos sociais completos", na perspectiva singular de Sayad (1998 e 2020). A realidade que envolve todo esse movimento apresenta desdobramentos de diversas ordens, possibilitando a análise de fatores responsáveis por esse êxodo, que supera outros eventos marcantes nas trajetórias migratórias históricas e contemporâneas.

    Além disso, esse fenômeno suscita aspectos relevantes, como a discussão sobre as políticas de recepção, os usos políticos dessa migração, a dificuldade na construção de políticas públicas, a participação de agências e organismos internacionais na governança migratória, a militarização das ações de recepção, a atuação da Sociedade Civil diante da vulnerabilidade dos migrantes que chegam, a abordagem midiática sobre o evento e a compreensão da saúde mental desses imigrantes, entre tantos outros temas e reflexões que se mostram urgentes.

    Ante a esse cenário, a revista Textos e Debates, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) e ao Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), tem o privilégio de convidar seus leitores a conhecerem e se aprofundarem em algumas das pesquisas de referência que são desenvolvidas no espaço de nossa Universidade e de outras produções que se relacionam com o tema.

    Nesse sentido, o dossiê oferece aos leitores uma configuração plural em termos de temáticas e abordagens, apresentando instigantes reflexões e contribuições para o meio acadêmico e a construção de políticas e ações em prol das pessoas migrantes e refugiadas. Essa é mais uma das importantes contribuições da UFRR para conferir acolhimento, cuidado, dignidade e direitos a esse grupo.

    É notável que, em Roraima, a dinâmica migratória se faz presente de forma intensa, sendo o estado abrigo para muitas ações desenvolvidas no Brasil para atender essas pessoas migrantes e refugiadas. Roraima também é destino para aqueles que escolheram o estado como parte de seus projetos migratórios ou que estão de passagem para outros locais no Brasil e no mundo.

    A revista traz cinco artigos e uma resenha que apresentam pesquisas e reflexões fundamentais para uma melhor compreensão desses eventos e suas consequências. A organização do dossiê foi conduzida por dois importantes pesquisadores: João Carlos Jarochinski Silva, professor da UFRR, que se dedica ao estudo das migrações internacionais na região amazônica e fronteiriça, e Lucia Maria Machado Bógus, pesquisadora no campo da mobilidade humana e professora da PUC-SP. Ambos partilham o compromisso com a defesa dos direitos humanos dos imigrantes e a preocupação de analisar e compreender os fluxos migratórios contemporâneos.

    O primeiro artigo foi escrito por Márcia Maria de Oliveira, Adrián José Padilla Fernández e Ellene Carla Baettker. No artigo intitulado Experiências de semicidadania, descidadanização e a sujeição dos migrantes e refugiados ao projeto de subcidadania em Roraima. As autoras trazem uma reflexão bastante substancial a respeito dessas categorias e a força de que o uso instrumental e controlador por parte das autoridades que realizam as ações para e com essas pessoas migrantes e refugiadas inviabilizam que esses indivíduos sejam, de fato, sujeitos de Direito.

    O segundo artigo, de Gilmara Sarmento e Francilene Rodrigues, intitulado Estado e Sociedade Civil no Processo de Migração Venezuelana, oferece uma rica contribuição ao processo histórico da recepção aos venezuelanos em Roraima por meio da análise das atividades e incidências realizadas pelas Organizações da Sociedade Civil. Marcando essas atividades em antes e depois da Operação Acolhida, o texto reflete sobre o papel dessas entidades e reforça a necessidade de se refletir sobre os modelos e dinâmicas de acolhimento, recepção e integração que são realizados no Brasil, com maior destaque, para as concretizadas em Roraima.

    Já o terceiro texto, de Norah Gamboa Vela, oferece uma rica análise pautada na análise sobre as notícias veiculadas sobre a migração venezuelana nos meios de comunicação da Folha de Boa Vista, grupo de imprensa que possui diversos veículos e que exerce relevante papel no estado. Em sua abordagem, a autora destaca diversos elementos problemáticos nessa cobertura e a intencionalidade de apontar a migração como um elemento negativo, baseada na análise das expressões e imagens que foram veiculadas entre os anos de 2020 e 2022, apontando, ainda, a presença, em alguns textos, de erros ou informações inverídicas ao tratar do tema.

    O quarto artigo, de Gleise Sales Arias e Leila Salomão De La Plata Cury Tardivo, é o único que não aborda uma temática específica de Roraima, mas apresenta uma relevante revisão da produção bibliográfica sobre aspectos relacionados à produção acadêmica sobre a saúde mental de pessoas migrantes e refugiadas.  Também relacionado ao tema da saúde mental, mas com o objetivo de analisar o contexto dos abrigos em Roraima, o texto de Isabeau Cristina de Sousa Bezerra e João Carlos Jarochinski Silva, analisa os possíveis impactos e abordagens que são feitas sobre os traumas psicossociais vivenciados pelos migrantes e refugiados em situação de abrigamento.

    Por fim, o dossiê oferece a resenha escrita por Fernanda Gabriela Silva Cordeiro de Lima do livro ACNUR Brasil: antes e depois da operação acolhida: uma análise à luz do deslocamento forçado no Brasil (2017-2022), obra institucional que também se dedicou a analisar, sobre o ponto de vista do ACNUR, os impactos da mobilidade venezuelana para a sua atuação no Brasil.

    Dessa forma, esta edição da revista Textos e Debates permitirá ao leitor ter acesso a alguns artigos que irão aprofundar diversos elementos presentes no contexto de intensa mobilidade, problematizando questões cruciais e que nem sempre recebem a atenção que merecem.

    João Carlos Jarochinski Silva

    Lucia Maria Machado Bógus 

  • Jul - Dez 2020: Revista Textos e Debates
    Vol. 26 Núm. 02 (2020)

    Após dois anos de hiato devido às mudanças em sua equipe editorial e aos efeitos da pandemia da COVID-19, a Revista Textos e Debates retoma suas publicações com o compromisso de divulgar o conhecimento científico nas diferentes áreas das Ciências Humanas – mantendo, assim, seu caráter interdisciplinar e seu índice de qualidade. Outra mudança a partir desta edição é a vinculação do periódico ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Fronteiras (PPGSOF/UFRR), o que fortalece seu caráter institucional com a Universidade Federal de Roraima. 

    Abrindo esta edição, temos um texto na área de Ciências Sociais de Rodrigo Pereira Chagas, que busca investigar como as ideias de "nação" e "nacionalismo" são abordadas nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels. Em seguida, em um trabalho no campo da História, Liliane Costa Andrade e Dilton Cândido Santos Maynard analisam a divulgação da programação cinematográfica nos jornais aracajuanos durante a Segunda Guerra Mundial, oferecendo-nos, dessa forma, um trabalho de História e Cinema e História e Imprensa. 

    O terceiro artigo, de autoria de Tallita Stumpp e Leandro Couto Carreira Ricon, realiza uma discussão teórica sobre a recuperação dos sujeitos enquanto atores sociais nas obras de Michel de Certeau e Jacques Rancière. Esse estudo apresenta como plano de fundo a segunda metade do século XX, métodos comparativos e discussões sobre as categorias espectador emancipado e usuário ou consumidor/produtor. Outra historiadora que compõe essa edição é Mônica Porto Apenburg Trindade, buscando examinar como a Guerra do Vietnã foi representada nas canções de rock lançadas nos anos 1970 por bandas estadunidenses e britânicas. A autora também faz uso dos métodos comparativos para investigar de que maneira o conflito afetou aspectos da vida cotidiana nas sociedades norte-americana e inglesa. 

    Ainda em um artigo na área da História da Guerra Fria, Talita Emily Fontes da Silva faz um estudo sobre o papel dos intelectuais brasileiros, como Érico Veríssimo, na diplomacia cultural interamericana. Essa é uma pesquisa que se propõe a abordar o pós-Segunda Guerra Mundial a partir da perspectiva latino-americana. Por sua vez, no campo do Ensino de História, Hstéffany Pereira Muniz Araújo nos apresenta seu relato de experiência como egressa do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade Federal de Roraima (PROFHISTORIA/ UFRR) em uma pesquisa conduzida com alunos do 7º ano que trocaram cartas com a comunidade indígena Bananal, localizada no município de Pacaraima. A autora faz uma análise dessa experiência. 

    Temos ainda um artigo na área da Psicologia de autoria de Julio Cesar Pinto Souza e Fabiana Souza Bezerra cujo objetivo é apresentar os efeitos que a ausência da figura paterna pode gerar no comportamento de adolescentes. Por fim, no campo do Direito, Raphael Haidar Gomes aborda os efeitos da emancipação legal matrimonial e do divórcio no cotidiano dos indivíduos.

     

    Desejamos a todos e todas uma boa leitura. 

    As(os) Editoras(es).

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