Saúde mental e migração em Roraima:

considerações sobre um fenômeno crescente

Autores

  • Isabeau Cristina de Sousa Bezerra Universidade Federal de Roraima
  • João Carlos Jarochinski Silva Universidade Federal de Roraima

DOI:

https://doi.org/10.18227/2317-1448ted.v27i01.7813

Palavras-chave:

Migração internacional, Saúde Mental, Síndrome de Ulisses, Roraima

Resumo

O presente artigo objetiva compreender sobre as possíveis consequências à saúde mental enfrentadas pelos sujeitos em processo migratório. A partir da realização de uma revisão bibliográfica de pesquisas em relação à temática, é realizada uma análise sobre os principais impactos do processo migratório na saúde mental do sujeito migrante. Como referências bibliográficas centrais aparecem os trabalhos desenvolvidos por Joseba Achotegui, Lucienne Martin-Borges, e materiais publicados pela própria OMS sobre a temática. Com base nesses autores, realiza-se a discussão em relação às principais dificuldades enfrentadas, os processos de lutos vividos nesse trajeto e os principais sintomas desenvolvidos nesse contexto. Tomadas como centrais para a análise a ser realizada, são elencadas as principais características apontadas por Achotegui, naquilo que ele denomina de Síndrome do Imigrante com Estresse Crônico e Múltiplo ou apenas Síndrome de Ulisses. Tal síndrome é hoje reconhecida pelas organizações internacionais que tratam de questões migratórias, de forma que uma maior discussão acerca da temática se faz importante e necessária, tanto para ampliar os debates, de modo a apontar meios de lidar com as questões de saúde mental dessa população, bem como para evitar manejos clínicos de culpabilização e medicalização do sujeito, ampliando o debate de ações a serem consideradas no apoio às populações afetadas. Dessa forma, tais apontamentos são também utilizados como base para realizar a crítica à medicalização do sofrimento vivido por esses sujeitos, de forma que é frisada a importância de sua não patologização, sendo o sintoma considerado como reflexo das condições objetivas e sociais enfrentadas. Por fim são elencados os dados sobre as ações de incentivo e sobre a rede de apoio à saúde mental da população migrante no Brasil, e mais especificamente no estado de Roraima, que demanda especial atenção devido à intensificação na chegada de milhares de migrantes venezuelanos nos últimos anos, ingressando no país através da fronteira entre os dois países.

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Publicado

10/06/2021

Como Citar

DE SOUSA BEZERRA, I. C. .; JAROCHINSKI SILVA, J. C. Saúde mental e migração em Roraima:: considerações sobre um fenômeno crescente. Textos e Debates, [S. l.], v. 27, n. 01, p. 160–189, 2021. DOI: 10.18227/2317-1448ted.v27i01.7813. Disponível em: http://revista.ufrr.br/textosedebates/article/view/7813. Acesso em: 19 nov. 2024.