Interculturalidade é um dos pilares da educação escolar indígena, que representa um termo
amplamente utilizado nos textos legais, nos programas de educação indígena e de formação de
professores indígenas. Neste artigo, apresentamos a interculturalidade vivenciada pelos professores
Yanomami durante o curso Magistério Yarapiari, um curso de formação desenvolvido junto ao povo
Yanomami, precisamente entre 38 comunidades distribuídas em sete regiões da Terra Indígena Yanomami
- TIY. Iniciaremos apresentando um breve histórico da educação escolar indígena no Brasil,
seguido de um relato da experiência escolar iniciada na comunidade Watoriki (Serra dos Ventos), localizada
no estado do Amazonas. Esta experiência escolar influenciou a formação dos professores e a
produção de materiais didáticos em várias outras comunidades Yanomami. Na terceira parte, apresentaremos
os intercâmbios, uma das modalidades do curso Magistério Yarapiari, uma estratégia metodológica
prática que ampliou o campo de intermediação dos professores Yanomami com outros povos
indígenas e com a sociedade envolvente. E, para finalizar, apresentaremos a pesquisa, outra modalidade
da formação, que favoreceu o conhecimento de algo novo, pouco conhecido ou desconhecido,
além de contemplar o registro dos conhecimentos do povo Yanomami. Partes destas pesquisas foram
transformadas em materiais didáticos, livros, revistas e jornais, sistematizados e socializados nas
escolas e nas comunidades. Desta forma, a produção escrita na língua Yanomami é decorrente desse
processo formativo, que teve em suas bases estratégias metodológicas interculturais que fomentaram
o exercício de conhecer o outro, fomentando a reflexão sobre o próprio modo de vida Yanomami.